Sussuro o teu nome na bruma do anoitecer. Vou bem fundo cá dentro e sinto-te perto. Em todos os recantos vejo o teu nome escrito...
Chego a casa, tomo um duche rápido, faço a barba para amanhã ficar na cama mais 5 minutos, faço o jantar e sento-me a ver televisão. Nunca dá nada de especial a esta hora! Ligo o portátil e revejo fotografias nossas. Fumo um cigarro à janela. Vejo um casal a beijar-se num carro. Fez-me lembrar aquela noite na Ericeira. Era Inverno, o mar estava revoltado e nós dois dentro do carro a olhá-lo. Lembras-te desse fim-de-semana? Dormimos pela primeira vez em conchinha a tocar um no outro! Finalmente habituei-me a dormir com alguém! Tu sabes que tenho insónias e me custa adormecer.. Sentir-te perto de mim sabe-me bem. Sentir o calor do teu corpo, o mel dos teus lábios em cada beijo merecido e sentido. Abracei-te por trás e sussurei-te: “Amo-te!”. Tu moveste lentamente os ombros, num gesto de aceno, e com um sorriso no rosto, que não podia ver mas senti, disseste-me: “Eu também!” E ficámos ali até ao Domingo seguinte, como se nada mais nas nossas vidas nos importasse.
Voltámos para Lisboa! Trânsito insuportável! Eu odeio condutores de fim-de-semana! E tu também! A música no carro tem ritmo! Vamos cantalorando os dois durante toda a viagem de regresso passando por algumas praias da costa Oeste. Existem por aqui praias de nudistas, mas nós procurámos e não encontrámos nada!
Quando chegámos a Lisboa fomos passear pela baixa. Havia um grupo de miúdos a correr e a rir, fugindo da monitora desesperada com tantos e tão reguilas que eram. Sempre quisémos ter um filho! Com caracóis! Lindo como nós dois! “O nosso filho vai ter caracóis e olhos verdes!” dizes-me tu com um sorriso enorme.
Chegámos a casa e fui a casa de banho! Estava tão aflito! Quando chego à sala, tinhas apagado as luzes e estavas-te a despir por completo e em silêncio. Estupefacto, parei! A luz dos candeiros da rua que passa pela janela semi-cerrada contornava a tua silhueta de uma forma bela e única. Nua aproximaste-te de mim e despiste-me. Com uma voz sexy e doce pediste-me para te seguir até ao quarto. Mergulhámos um no outro de uma forma quente e apaixonante, louca e vertiginosa. Fizemos amor como nunca. Quando terminámos, os nossos lábios ardiam, o suor escorria nos nossos corpos. Fumámos um cigarro!
Olhei para ti e tinhas um ar estranho. “Conta-me o que se passa!”, pedi-te. “Fala comigo!”, implorei-te. Tu nem te esforçaste por um gesto, um mimo. Comecei a desesperar... Fitaste-me o olhar e soltaste tudo. Disseste-me, num discurso estudado, que tinhas dúvidas se me amavas. Que tinhas estado bem sem mim. Que não tinhas saudades minhas. Começaste a chorar e eu abraçei-te e disse-te que te amava, que tudo se iria resolver porque se tudo o que for mais sagrado e verdadeiro, o for de facto, será universal e intemporal. Não queria acredidar no que estava a acontecer. Levantaste-te, vestiste-te e partiste.
Durante semanas não soube de ti. A tua mãe ligou-me uns meses mais tarde a dizer que estavas no hospital e querias-me ver. Voei até Santa Maria. Querias falar comigo, mas eu cheguei tarde demais. Escreveste-me uma carta:
“Descobri que tinha uma doença incurável em fase terminal e não te quis preocupar. Quis-te poupar a todo o sofrimento de me veres morrer lentamente... Perdoa-me.
Contigo descobri o que é amar alguém e, por isso mesmo, deixei-te voar sozinho. Sei que vais encontrar alguém e dar-te da mesma forma extraordinária como te deste a mim.
Perdoa-me por tudo! Perdoa-me por ter de ser assim!
Amo-te.”
Hoje vejo-te em todos os locais, todos gestos e todos sons. E cada vez que te vejo, uma lágrima escorre-me pelo rosto.
Amo-te.
NOTA: Ainda bem que é só um conto! Ouch! É estranho que quando mais feliz e contente estou, mais triste é a minha escrita! Estranha coisa esta da mente!