sexta-feira, janeiro 05, 2007

Parece parece...

Um quarto vazio... O amanhecer rasga os olhos e no chão está roupa espalhada e um livro. Na cama, os lençois enrolados transpiram ainda suores de prazer. Na janela uma silhueta preocupada. O movimento do seu corpo prova-me a sua deslealdade. Já nada é intacto e o vento matinal sabe-lhe a amargo. As mãos na cabeça baixa, dançando com os despenteados cabelos, demonstram preocupação, insatisfação, saturação e aflição.

De súbito uma voz amiga passa-lhe as mãos pelos ombros e sussura-lhe: "Vai ficar tudo bem! Só precisas de te organizar."

Ele, assustado mas decidido, pega na roupa suja do chão e coloca-a no cesto, apanha o livro e junta-o aos outros da estante, faz a cama de lavado, deita fora os lenços ranhosos da noite, toma um banho, faz a barba, veste a roupa mais confortável que tem, faz o almoço e um bolo para o lanche, arruma a cozinha, telefona à namorada e vai passear pela baixa de mão dada.

Ficou tudo bem! Ele só precisava mesmo de arrumar a casa e voltar a estar com aquela mulher com quem passou mais uma noite fantástica.

Eu bem vos tinha dito: nem tudo o que parece é, mas tudo o que é parece. Hoje é sexta-feira. Faça com que tudo o que é pareca. Não finja! Não fuja! Somos únicos e verdadeiros! Só nos falta parecer! Ou será que parecemos únicos e verdadeiros e só nos falta ser?

De quem parece aquela silhueta?

3 comentários:

Sandrinha disse...

Porque é que nos tratas por você?

;o)

Filipe Pereira disse...

"De quem parece aquela silhueta"?!?...

Depende...

Conheces?! Reflectes-te nela?!... Identificas-te?! então aquela silhueta é tua...

Ana Rita disse...

Costuma-se dizer que se parece um pato, anda como um pato, grasna como um pato então é um pato. Ás vezes o que parece é mesmo...