segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Ele trata-me bem, diz Margarida

A noite caiu quase à traição, com um hálito frio e um manto púrpura que resvalava entre os resquícios das ruas. Apertei o passo. A Margarida tinha inteligentemente combinado aquele lugar para o nosso encontro. Um local onde as sombras do frio mantinham todos os sentidos em alerta.

Quando cheguei, na penumbra do candeiro, pegou-me na mão e acariciou-me o rosto em silêncio. Sentei-me a seu lado. Senti que aquele encontro seria a desculpa do adeus. Observei-a. Surrurrei-lhe: "isto não tem de ser assim". Ela sorriu com uma certa tristeza e evitou o meu olhar.

O anoitecer amparava-nos e naquele silêncio do abandono que une os estranhos, senti-me com coragem para lhe dizer fosse o que fosse. Nada mais importava. "Gostas dele?", perguntei-lhe. Ela deixou escorrer uma lágrima doce, esboçou um sorriso cúmplice e respondeu-me: "Ele trata-me bem!". Quase de seguida, aninhou-se a meu colo e chorou até a lua ir bem alta.

Era quase meia-noite e convidei-a a levantar-se e ir dormir. Caminhámos em direcção à sua casa em pleno silêncio.

Como um relâmpago, parei de caminhar e agarrei-lhe o corpo firmemente. Fixei-lhe o olhar. A nossa respiração aumentou o ritmo e senti gotas de suor no meu rosto nervoso. Aquele momento foi único... Beijámo-nos e fugimos de tudo e de todos para bem longe. Sem justificações, sem razões, sem medos! Só nós importávamos!

Fomos felizes o resto da vida!

3 comentários:

Miguel Fonseca disse...

Magnífico. Dúbio no final, mas magnífico.

Menina do Rio disse...

Como diz o Miguel, final dúbio mesmo, a menos que tenham morrido ali mesmo...Mas se foram felizes, penso que isso basta! Gostei da intensidade dos fatos!

beijinhos

ManUel disse...

gostei de ler :)