segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Ele trata-me bem, diz Margarida

A noite caiu quase à traição, com um hálito frio e um manto púrpura que resvalava entre os resquícios das ruas. Apertei o passo. A Margarida tinha inteligentemente combinado aquele lugar para o nosso encontro. Um local onde as sombras do frio mantinham todos os sentidos em alerta.

Quando cheguei, na penumbra do candeiro, pegou-me na mão e acariciou-me o rosto em silêncio. Sentei-me a seu lado. Senti que aquele encontro seria a desculpa do adeus. Observei-a. Surrurrei-lhe: "isto não tem de ser assim". Ela sorriu com uma certa tristeza e evitou o meu olhar.

O anoitecer amparava-nos e naquele silêncio do abandono que une os estranhos, senti-me com coragem para lhe dizer fosse o que fosse. Nada mais importava. "Gostas dele?", perguntei-lhe. Ela deixou escorrer uma lágrima doce, esboçou um sorriso cúmplice e respondeu-me: "Ele trata-me bem!". Quase de seguida, aninhou-se a meu colo e chorou até a lua ir bem alta.

Era quase meia-noite e convidei-a a levantar-se e ir dormir. Caminhámos em direcção à sua casa em pleno silêncio.

Como um relâmpago, parei de caminhar e agarrei-lhe o corpo firmemente. Fixei-lhe o olhar. A nossa respiração aumentou o ritmo e senti gotas de suor no meu rosto nervoso. Aquele momento foi único... Beijámo-nos e fugimos de tudo e de todos para bem longe. Sem justificações, sem razões, sem medos! Só nós importávamos!

Fomos felizes o resto da vida!

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

O caminho e o caminhar


Tem sempre presente que a pele se enruga,
o cabelo embranquece,
os dias convertem-se em anos...

Mas o que é mais importante não muda;
A tua força e convicção não têm idade.
O teu espírito é como qualquer teia de aranha.

Atrás de cada linha de chegada, há uma de partida.
Atrás de cada conquista, vem um novo desafio.
Enquanto estiveres viva, sente-te viva.
Se sentes saudades do que fazias, volta a fazê-lo.
Não vivas de fotografias amarelecidas...
Continua, quando todos esperam que desistas.
Não deixes que enferruje o ferro que existe em ti.
Faz com que em vez de pena, te tenham respeito.
Quando não conseguires correr através dos anos,
Trota. Quando não consigas trotar, caminha.
Quando não consigas caminhar, usa uma bengala.
Mas nunca te detenhas!!!

por Madre Teresa de Calcutá

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Diário de um Tuno...

O DIÁRIO DE UM ELEMENTO DE UMA TUNA FEMININA

No Sábado à noite ele estava estranho. Combinámos encontrarmo-nos no bar da Universidade para tomar um copo. Passei a tarde toda a tarde a comprar emblemas para a capa com as minhas amigas e pensei que pudesse ser por minha culpa, porque me atrasei um bocadinho, mas ele não fez grandes comentários. A conversa não estava muito animada, de maneira que pensei em irmos a um lugar mais íntimo para podermos conversar mais em privado. Fomos à tasca do tio Manel e ele AINDA a agir de modo estranho. Tentei animá-lo e comecei a pensar se seria por minha causa ou outra coisa qualquer. Perguntei-lhe, e ele disse que não era eu. Mas não fiquei muito convencida.

No caminho para casa, no carro, disse-lhe que ele era o melhor pandeireta no meio das Tunas e que eu o amava muito muito, e ele limitou-se a pôr-me braço por cima dos ombros. Não sei que raio quis dizer com isso, porque não disse que eu cantava bem, nem nada, e estava a ficar mesmo preocupada.

Finalmente chegámos a casa e eu já estava a pensar se ele me iria deixar! Por isso tentei fazê-lo falar, mas ele ligou a televisão, e sentou-se com um olhar distante que parecia estar a dizer-me que estava tudo acabado entre nós. Por fim, embora relutante, disse que me ia deitar. Mais ou menos 10 minutos depois ele veio também e, para minha surpresa, correspondeu aos meus avanços e fizemos amor.

Mas ainda parecia muito distraído, e depois quis confrontá-lo e falar sobre isso, mas ele adormeceu. Comecei a chorar e chorei até adormecer. Já não sei o que fazer. Tenho quase a certeza que ele tem alguém e que a minha vida é um autêntico desastre.

O DIÁRIO DO TUNO

Raios partam! Não tocamos um caracol… eliminados por uma Tuna dos Pescadores da Póvoa que mais pareciam um rancho ordinário, uma Tuna da terceira divisão... Bem, ao menos, dei uma queca…. Vou mas é dormir.

PS: Este post é uma metáfora ao pensamento feminino! Nada mais!

terça-feira, fevereiro 13, 2007

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

No teu peito...

Para ti, que nunca te escrevi
No teu peito escorre vida, a semente
Essa gota que me entranha e faz sorrir
Nela me perco em desejo ardente
Se ao menos eu a pudesse sentir
Mais do que palavras tontas, molhadas
Na minha boca tenho o beijo teu
São de mel doce quente provocadas
Que meu ouvido quase se esqueceu

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Colher flores


"O amor é uma flor delicada, mas é preciso ter coragem de ir colhê-la à beira de um precipício." - Stendhal

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Se tu viesses ver-me...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços
Os teus beijos... a tua mão na minha

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

Florbela Espanca

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

A Senhora da bola

A vida escapa-nos. Foge-nos, corre,... Antes de adormecer, sofri um abanão!

Na penumbra, alguém me pegou na mão. Acariciou-me a palma em silêncio, como se quisesse ler-me as linhas da pele. A minha mão tremia sob o seu contacto. Surpreendi-me ao desenhar mentalmente as formas do seu corpo debaixo daquele lençol branco. Desejava sentir a pulsação a arder-lhe debaixo da pele mas encontrei o seu olhar sereno de amor. Aquele olhar exitou-me os sentidos! Uma mulher de cabelos pretos e olhos avelã. Uma mulher de traços moldados à qual a juventude escapava a cada instante. Sussurou-me: "O tempo esfria tudo. Aproveita o momento."

Numa fotografia dinâmica recordei todos os relacionamentos que vivi, as amizades que perdi, os amores que desdelhei, as mulheres que amei... Uma onda salgada soltou-se dos meus olhos. Saborei-a quando me tocou nos lábios trémulos de compaixão. A visão que aquela mulher me deu entristeceu-me. Era todo o espelho de uma vida. A minha vida! (A nossa?)

Vi os meus amigos de infância, os da escola, os dos copos, os do emprego,... A bola de cristal mostrou-me o papel de cada um deles na minha vida. Cada um deles dá-me algo que aceito e me faz crescer. Na infância, foram as brincadeira e correrias do pátio. Na escola, os primeiros beijos e primeiras estaladas. Nos copos as gargalhadas e no emprego o companheirismo. Cada um deles, da sua forma distinta, molda-me. Cada um tem o seu lugar.

Naquela bola embaciada, pelo calor das mãos daquela mulher, vi um brilho sempre a meu lado. Pensei de forma ingénua que fosse uma fada ou uma estrela, mas quando foquei o meu olhar naquele brilho apercebi-me que era uma pessoa. Não lhe consegui ver a cara, mas pela forma corporal, vi-lhe o sorriso. Era a minha mulher, minha amiga e companheira. A mãe dos meus filhos. Vi nela uma amizade estrondosa, um carinho imenso e um amor ardente. Quis ver-lhe a cara, mas quando tentava rodar a bola, escorregou para o chão e quebrou-se em mil pedaços... Olhei zangado para aquela misteriosa mulher e notei que tinha desaparecido. Fiquei incrédulo! Nunca cheguei a perceber se fui eu que deixei cair a bola, ou se foi a mulher que o fez. Duvido até que tenha aparecido alguma mulher...

A vida vai correndo, as mudanças acontecendo e tantas vezes nos afastamos de quem amamos. A saudade bate: "É a vida!" desculpamo-nos como se não houvesse nada a fazer. Fazemos promessas de novos encontros, uma e outra vez, sempre que for possível, mas esses encontros torna-se cada vez menos frequentes. Mês após mês vamo-nos afastando. Cada vez mais, até que no último adeus de um, voltamos a fazer novas promessas de encontros mensais. Promessas vãs.

A vida corre. Corre muito depressa. Vale a pena aproveitar todos os momentos, todos os relacionamentos. Viver cada um com a intensidade que merece. Sempre!

O meu quarto cheira a um pó quente brilhante... Será que aquela mulher teve mesmo aqui? Vou-me deitar sossegado. Amanhã vou acordar e viver intensamente cada relação que tenho: a relação com o amigo dos desabafos, a relação com o colega de emprego, a relação com o empregado do restaurante do almoço, a relação com a namorada, a relação com o motorista do autocarro, a relação com o amigalhaço das noites de fim-de-semana, a relação com o irmão, a relação com a minha amante, a relação com a amiga chata, a relação com a mulher da limpeza lá do escritório, a relação com o amigo da amiga do meu amigo... Vou aproveitar cada olhar, cada troca, cada partilha. Porque a saudade vai bater à porta e, quando ela vier, sei que aproveitei todos os momentos e relacionamentos. Vou viver intensamente a minha vida extraordinária, porque o mundo é imenso e está cheio de gente!

quinta-feira, fevereiro 01, 2007