segunda-feira, novembro 30, 2009
VCP em Angola #12
Ora aqui estou.
Esta experiência tem sido fantástica. As expectativas vinham muito baixas, muito por culpa de quem tem blogs onde relatam experiências, aventuras e desventuras em Luanda. No entanto, tudo o que se diz e escreve é mau. Mostra um país subdesenvolvido, cheio de problemas, corrupção e insegurança. Sim, há problemas, poucas infra-estruturas, alguma insegurança, alguma corrupção. Sim há. Não desminto. Mas há algo muito maior aqui. Há algo que poucos têm a sorte de conhecer. E sabem o que é? É amizade. Verdadeira. É carinho, é preocupação com alguém que também está longe do seu país.
Em Angola, e em Luanda em particular, há muitos tugas. Muitos pulas (como chamam aos brancos). Alguns deles bastante com ar colonial e atitudes imperialista. Mas são apenas alguns. Há os outros. Os outros que te recebem de braços abertos na sua casa. Os outros que te dão jantar e prontificam-se para te ajudar em tudo. Os outros que te levam a conhecer uma outra Angola. Os outros que vivem cá. São imigrantes. Sim, são. E? Ser imigrante é ser alguém que quer mais e melhor para a sua vida. É alguém com espírito aberto que luta por algo em que acredita. Algo melhor. Que tem força para suportar meses e meses de distância da sua terra natal, do seu país.
Estou a ser muito bem recebido. Estou a gostar muito. Esqueçam os blogs. Não me leiam mais. Se pensarem em vir trabalhar para Angola, não se preocupem. Relaxem, abram o espírito e aproveitem. Vivam as experiências. Vale a pena.
As saudades "de casa" apertam, claro. Mas há que aproveitar.
domingo, novembro 29, 2009
sábado, novembro 28, 2009
sexta-feira, novembro 27, 2009
quinta-feira, novembro 26, 2009
VCP em Angola #11 - Outros
Luz é água são bens escassos em Luanda. É frequente o corte durante horas ou mesmo dias. Há zonas da cidade onde, simplesmente, não existe fornecimento. A solução adoptada por muitos passa por comprar um gerador próprio, para a electricidade, e um tanque de água que é depois abastecido por um camião cisterna.
… segurança
Luanda é uma cidade insegura. Os assaltos são frequentes. Telemóveis, computadores pessoais e, claro, dinheiro são os alvos principais dos “amigos do alheio”. Há que ter alguns cuidados: evitar andar a pé na rua em especial durante a noite; trancar as portas do carro; de noite, não parar nos semáforos e, acima de tudo, não confiar na sorte. Uma atitude consciente e defensiva é sempre a mais prudente. Em caso de assalto, raramente há violência. Embora os delinquentes andem quase sempre armados, só usarão a arma (e usam) se houver resistência. Para mim, a vida tem mais valor que um iPhone, mas isto sou eu a falar.
… enviar dinheiro para o estrangeiro
É difícil. Até há uns meses atrás era relativamente fácil enviar dinheiro para fora, mas com a escassez de dólares no mercado e com a crise (também aqui, sim!) a situação complicou-se. Pelo banco, o Governo obriga à apresentação de um atestado de residência e do contrato de trabalho, este último uma miragem para muitos trabalhadores estrangeiros em Angola. Existem alguns balcões da Western Union e semelhantes onde é mais fácil o envio, embora limitado a uma determinada quantia mensal.
… as pessoas
É como em tudo, há gente boa, gente assim-assim e gente má. Em geral, o angolano tem pouca responsabilidade, mas isto é uma coisa que se constrói com o tempo. Há uma nacional dificuldade em se cumprir um horário e a palavra dada é só palavra dita. Contudo, as pessoas genuínas são verdadeiras. Convém andar sempre com uns kwanzas no bolso, podem dar imenso jeito.
… lazer
Luanda não é uma cidade com muitas ofertas de lazer. Talvez por isso o Belas Shopping, o único centro comercial a funcionar (apesar de existirem muitos outros já em projecto ou mesmo em construção), seja, ao domingo, sítio de romaria e um local a evitar. O Belas que é aproveitado como cenário bucólico para fotografias de casamento. Às quintas e sextas é ver as comitivas em animados desfiles por entre lojas e corredores. O Cineplace, um complexo com oito salas de cinema – as únicas no activo – está lá instalado.
Quem procura diversão nocturna vai à Ilha, que é apenas uma península e que não deve ser confundida com o Mussulo. O Chillout é o ponto de encontro dos portugueses, com música House. Faz lembrar as discotecas lisboetas, mas ao ar livre. Miami Beach, Caribe e Jango Veleiro são outros nomes a decorar. Fora da Ilha do Cabo (ou de Luanda, como é coloquialmente chamada), o Palos é a Meca da noite. Por ter sido a primeira e pelo seu dono, o exuberante Paulo Von Haff, a discoteca / bar tem às quintas-feiras a sua grande noite semana. São as noites latinas. Se estiverem à procura de sons mais tradicionais, vulgo Kizomba, Don Q e W são os sítios onde querem ir.
VCP em Angola #10 - Telecomunicações
Por falar nisso, os ATM estão quase sempre fora de serviço ou sem dinheiro. A rede chama-se Multicaixa, e só nalguns terminais são aceites cartões Visa (para levantamentos internacionais, por exemplo). Os cartões Maestro não são aceites. Nas lojas, os terminais de pagamento, quando existem, estão muitas vezes fora de serviço.
A internet mais rápida no país é a 4 mb/s, oferecida pela Tv Cabo. Está acessível apenas nalgumas zonas da cidade e o preço é de 450 dólares. Existem preços - e velocidados - mais baixos. Unitel e Movicel têm internet móvel, mas o serviço tem muitas falhas, embora venha a melhorar desde a sua entrada em funcionamento.
Como se subentende pelo parágrafo anterior, há televisão por cabo e os preços são razoáveis, com todos os canais a que estamos habituados (Fox e Axn também, descansem). O campeão de vendas é, contudo, o serviço satélite, mais barato e com o mesmo pacote de canais da Tv Cabo.
VCP em Angola #9 - Compras
Luanda é uma cidade cara. O facto de ser deficitária em termos produtivos leva a que quase tudo tenha de ser importado. A escassez de oferta faz aumentar os preços e o tempo que os cargueiros esperam para atracar (várias semanas, por vezes) no saturado Porto de Luanda não ajuda. Chegam a estar 80 navios ao largo, em lista de espera.
Para comprar bens essenciais existem cadeias de supermercados e pequenos minimercados ou cantinas, como são apelidadas as lojas de bairro.
O Shoprite, o Mundo Verde e o Nosso Super têm os preços mais populares, embora continuem caros. A Casa dos Frescos é a loja dos expatriados endinheirados, com todas as marcas de um qualquer Pingo Doce português, mas onde um pack de quatro Suissinhos pode custar 15 euros e onde eu já paguei – sou um excêntrico – 2000 kwanzas (20 euros) por uma caixa de gelado Olá.
Outra forma de comprar é no mercado informal, ou na zunga. À beira da estrada, no meio do trânsito. Os preços são mais baratos – continuando caros – porque os vendedores compram directamente nos armazéns. Há de tudo – fruta, legumes, bolachas, ovos, ferros de engomar e móveis para a casa - e chega a ser pitoresco. Quem é que não acha piada a um sofá à venda no passeio?
A comida é cara. Não será à toa que a base da alimentação é o feijão e o funge (papa feita com farinha de mandioca ou milho).
quarta-feira, novembro 25, 2009
VCP em Angola #8 - Transportes
“Luanda é um caos”. Provavelmente já terão ouvido esta expressão da boca de alguém que está ou esteve recentemente na capital angolana. A mais pura das verdades. Uma viagem entre o centro e a periferia, à distância de 10 quilómetros, pode levar 3 horas. A circulação dentro da própria cidade é infernal desde as seis da manhã e até às 22. O domingo, quando está tudo fechado, é o único dia razoável para se sair de casa.A falta de transportes públicos agrava a situação. A TCUL – Transportes Colectivos Urbanos de Luanda e a Macon são as principais empresas, mas a sua frota é escassa, passa a maior parte do tempo avariada e tem dificuldades de circulação por entre o trânsito caótico em quase todas as artérias. As viagens custam 30 kwanzas (30 cêntimos de euro).E eis-nos chegados aos táxis. Os táxis não são como nós os conhecemos. Esqueçam as filas de Mercedes à espera de passageiros. Táxi, aqui, é carrinha Hiace (“iáce”, como pronunciam os angolanos) de nove lugares, onde nunca vão menos de 12 passageiros. Os “taxistas” conduzem que nem uns loucos, sobem passeios, andam em contramão, param onde lhes apetece, mas são responsáveis por manter a cidade em funcionamento. Quando a polícia decide apreender carrinhas ilegais, a cidade cai na quase ruptura absoluta, as pessoas não aparecem para trabalhar, o trânsito aumenta e o cenário é apocalíptico. As viagens podem custar 100 a 150 kwanzas e há quem precise de apanhar cinco táxis diferentes para chegar de um sítio a outro na cidade.
VCP em Angola #7 - Habitação
Angola está na moda e [quase] toda a gente quer vir para cá, gostava de querer ou já pensou em.
O texto destina-se a quem está de malas feitas ou a pensar nisso… para que se deixem de ilusões.
Luanda tem três áreas habitacionais distintas. O centro da cidade, todo ele com construções antigas, do tempo colonial e prédios que fazem lembrar a Amadora dos anos 60, sem obras desde então.
À volta do centro estão os musseques. Estes “bairros da lata” não obedecem a nenhum tipo de ordenamento e, em alguns casos, como o Cassenda, junto ao aeroporto, confundem-se com o que já foram zonas ordenadas. O saneamento básico, projectado para um número bem inferior de moradores, não consegue responder às necessidades actuais e por isso é frequente existirem verdadeiras lagoas disso que estão a imaginar.
Nos musseques existem casas de três tipos: vivendas recuperadas, com altos muros e um segurança à porta, casas e anexos de tijolo, com telhado de chapa, sem tecto e sem água (a não ser em balde) e casas de chapa.
Em Luanda Sul está a crescer a “cidade nova”. Talatona assemelha-se a uma cidade europeia, com ruas alcatroadas, iluminação pública e relativa segurança. As casas são de acordo com os padrões europeus, os preços é que não. Luanda Sul é a capital dos condomínios, ocupados quase todos por expatriados. Um T3 pode custar, mensalmente, 20 mil dólares. Comprar casa nesta área pode significar desembolsar entre 1 a 5 milhões de dólares.
Uma nota ainda para o projecto Nova Vida. É um bairro militar, construído pelo Governo. Parece um bairro social, mas é uma zona tranquila, embora sem os luxos de Talatona. As casas são maioritariamente atribuídas pelo Estado, pelo que só em regime de subarrendamento é possível alugar habitação no local. Rendas entre 3 e 5 mil dólares.
VCP em Angola #6
VCP em Angola #5
terça-feira, novembro 24, 2009
VCP em Angola #4
O jantar foi num restaurante tipo buffef de carnes à lá chimarrão. Mais 80USD por pessoa.
Há tanta pobreza e tanta riqueza. A comida é caríssima. A gasolina e taboco são baratos.
Há ar condicionado em todos os sítios. Há tudo à venda na rua. Não há transportes públicos. Há carros a mais. Ricos a mais. Pobres a mais. Classe média a menos.
Os brancos que conheci por aqui têm todos um ar colonial. Não gostei! Prefiro os pretos. Os Angolanos têm bom coração.
A primeira noite não dormir grande coisa. Ainda não me habituei ao calor, ao zumbido das melgas e mosquitos. Mas já fui picado! Portanto, olá paludismo, este é o meu corpo.
VCP em Angola #3
Respirei fundo 3 vezes e saí como se nada fosse. Saiu o Véspera. Nem olhei para as caras. Dirigi-me directamente ao ponto de encontro com o meu motorista Sr. Pepino - que afinal se chama Hélio.
10 kilómetros nos separavam do Guesthouse. 10 km que fizemos em 3 horas. Uma confusão de trânsito. Um caos autêntico.
Tudo se vende nas ruas, nas filas de trânsito. Tudo, mesmo tudo. Vi Coca-colas, pilhas, t-shirts da moda, ferros de engomar, botijas de gás, CDs... tudo!
Filas intermináveis! Caos! Ninguem dá prioridade a ninguem. Conduzem que nem os doidos. Se bateu e está tudo vivo, siga que para a frente é que é caminho. Pela direita, pela esquerda...
Lá cheguei à Guesthouse e guardei a mala. Segui logo para a empresa. 10 minutos com trânsito a partir de casa. Aqui é luxo! É como se morasse no mesmo prédio do escritório.
Fui apresentado aos directores. Dos 5 directores que conheci, apenas um é negro. Os directores disseram que eu ia ser explorado ao máximo. Tenho trabalho para 2 meses, mas tenho-o de fazer em pouco menos de 3 semanas.
Voltei à Guesthouse para dormir. Tenho uma senhora lá em casa que me arranja a comida e tudo o que pedir. Simpática e modesta, como quase todo o Angolano.
VCP em Angola #2
O meu passaporte electrónico funcionou muito bem a sair de lisboa. Agora para entrar em Luanda...
A primeira impressão quando saí do avião: o bafo quente e húmido. Dizem que é uma sensação que jamais se esquecerá: pisar solo africano pela primeira vez e sentir o cheiro quente da terra vermelha. Os mitos e lendas dizem que é vermelha por todo o sangue derramada na conquista dos diamantes. Eu sou pela ciência e sei que a cor se deve ao ferro e argila.
Voltando corrupção, na alfândega passei muito bem pelo balcão oficial. "Primeira vez?", afirmei que sim. "Vacinas em dia?", outra vez sim. "Dinheiro na conta?" mais uma vez sim.
Logo a seguir, outro controlo alfandegário. Desta vez o oficioso! Depois de verificarem os documentos perguntaram: "Quanto dinheiro tens?" (Com pronuncia africana! Com as vogais bem abertas.) Foi-me difícil perceber a primeira vez e a minha resposta sincera foi "Quê?". Como quem não percebeu bem a pergunta. Depois do guarda policial perguntar 3 vezes seguidas "Quanto dinheiro tens?" e eu, mesmo tendo percebendo à segunda, fingi que não percebi e lá me deixou passar sem que desse a famosa "gasosa".
Pedem "gasosa" para tudo: para te ajudar a carregar malas, para te darem uma informação... para tudo! Gasosa é tipo "uma moeda pelos serviços".
VCP em Angola #1
Se vim para Angola trabalhar, como o vou fazer agora?
sexta-feira, novembro 20, 2009
quinta-feira, novembro 19, 2009
terça-feira, novembro 17, 2009
Mais Um Fado No Fado
Eu sei que esperas por mim
Como sempre, como dantes
Nos braços da madrugada…
Eu sei que em nós não há fim,
Somos eternos amantes,
Que não amaram mais nada.
Eu sei que me querem bem,
Eu sei que há outros amores
Para bordar no meu peito.
Mas eu não vejo ninguém,
Porque não quero mais dores
Nem mais baton no meu leito.
Nem beijos que não são teus,
Nem perfumes duvidosos,
Nem carícias perturbantes,
E nem infernos nem céus,
Nem sol nos dias chuvosos,
Porque inda somos amantes.
Mas Deus quer mais sofrimento,
Quer mais rugas no meu rosto
E o meu corpo mais quebrado…
Mais requintado tormento,
Mais velhice, mais desgosto,
E mais um fado no fado.
Letra:Júlio de Sousa