- Não vou!
- Vens, vens! Porque eu quero!
- Não quero sair daqui...
- Vá, levanta o rabo preguiçoso da cama, e vem aproveitar o dia que hoje é sexta-feira!
- Não... hmm... hoje é sexta-feira?
- Sim! Bora!
- Está bem... pronto, eu vou...
- Estou mesmo em baixo. – confessa o Pedro ao Nuno numa festa que estava cheia de mulheres – Cada vez percebo menos as mulheres. Afinal o que é que elas querem?
- “Pouussss” – Nuno com uma expressão de compaixão e aceno – Uma das coisas que a mulher mais quer, antes de mais nada, é atenção!
- Mas eu dou tudo aquela rapariga!
- A mulher quer e precisa de ser notada, observada, ouvida, considerada. A mulher quer dos homens a atenção para o facto da sua condição de mulher, mulher feminina, com gentilezas e docilidades. Elas querem que a notem por sua condição de sensibilidade, generosidade e compaixão.
- E eu ouço a Maria. Nós falamos sempre tanto.
- Não é o facto de falar e ouvir. É mostrar que a presença dela na mesma sala em que tu estás, não te é indiferente. E como as mulheres se esmeram para serem notadas! Toda aquela essência de mulher... – Nuno suspira.
O Pedro confia no Nuno. Olha para ele como um exemplo a seguir. Vê no Nuno alguém tão forte, confiante e certo sempre de tudo. Um exemplo.
- Repara nesta rapariga. Fez tudo para que fosse notada. – diz confiante o Nuno – Mas uma mulher, por muito forte que seja, quer também protecção. Não porque seja ou sinta-se incapaz de se proteger a si própria. O que realmente a motiva é a percepção da disponibilidade do homem para com ela: um braço que a ajude a sair do carro, que lhe seja oferecido o lado mais seguro do passei, um casaco que a abrigue do vento e do frio... Protecção significa o desejo que a mulher tem de perceber-se considerada a ponto de alguém (um homem!) fazer algo por ela, e não necessariamente para ela, por ela ser mulher.
- Eu sempre tive todos os cuidados com a Maria. Sempre lhe dei a minha capa de estudante quando tinha frio, a mão a passar a estrada, uma ajuda a transportar uma mala pesada. Tudo!
- Calma! Nem tudo é como dizem os manuais! A parte mais significativa da realização da mulher é a sua dedicação. Há, de uma forma ou de outra, na mulher uma capacidade de doação, de uma entrega a alguém ou alguma causa que a comove. A mulher precisa de dedicar a alguém todo o seu potencial de amor.
Enquanto falava com Pedro, o Nuno acompanhava os movimentos deslizantes e pensados na rapariga na saia verde. Ao Nuno não lhe escapava nada. Um primeiro cruzar de olhos disse-lhe que havia ali desejo.
Continuou o Nuno.
- A mulher quer ser única. A mulher percebe em no seu interior que não é justo para ela, depois de tanto cuidado e doação, não ser considerada a única mulher por um homem. A sua auto-estima, amor próprio e senso de dignidade, no fundo mais do que ciúmes e egoísmos, a fazem reivindicar a unicidade da sua relação. Uma mulher não quer ser a favorita, quer ser a única!
- Nunca tive outra senão a Maria.
- A mulher quer estabilidade. Ser “para sempre” é o seu ideal! E para isso a mulher desenvolve uma capacidade de resignação e paciência admiráveis.
- Mas a nossa relação foi sempre estável. Será que ela quer alguma instabilidade na vida Nuno? Não a percebo...
- Ela não quer instabilidade, simplesmente foge da monotonia, procura aquela paixão, aquele friozinho na barriga que sentimos quando alguém nos surge e enquanta.
- Hmm... - Pedro suspira e solta uma lágrima.
- Pedro, tem calma. Não é preciso tanta ansiedade e frustração. A mulher é um bicho confuso e lindo. Vai correr tudo bem, tenho a certeza.
- Nuno! – acorda o Pedro como se uma estalada surpresa tivesse levado – Tu percebes tanto as mulheres, porque andas sempre a saltar de uma para a outra e não estabilizas a tua vida amorosa?
- Vou estabilizar, vou, e é já! – Nuno levanta-se em direcção à menina da saia verde, pelo caminho foi buscar mais uma imperial.
Pelo caminho olhou para trás e disse ao Pedro uma última frase:
Corpos despidos no tapete do chão
Sentados e quietos aumenta a tensão
Olhos fitados sem desligar
Bocas que pedem para esmagar
Pararam e olharam-se. Os olhos dizem tudo. Não foi um simples beijo. Foi uma promessa.
A vida é feita de encontros e desencontros, de espaço e tempo. A estória que vos conto é uma vivência igual a tantas, insignificante e marcante como todas as outras.
Tenho 42 anos, sou novo e maduro o suficiente para vos descrever a vida destas pessoas únicas, especiais e puras como você, como eu, como nós.
O Nuno é estrela.
A Ana é estrela.
E tantos outros!
Era uma vez... (assim começam todas as estórias).